Da Redação Avance News
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc Soja) indica onde e quando semear a oleaginosa para minimizar os riscos de perdas por eventos meteorológicos adversos.
A ferramenta leva em consideração as condições meteorológicas e a capacidade de armazenamento de água disponível no solo. Porém, a Embrapa desenvolveu uma proposta inovadora, que pretende considerar também o manejo do solo na avaliação de risco climático.
O detalhamento da proposta está sendo apresentado em um painel durante a Reunião de Pesquisa de Soja, realizada de 23 a 24 de agosto, em Londrina (PR).
“Entendemos que a qualidade do manejo do solo adotado pelos sojicultores tem enorme potencial em mitigar os riscos de perdas de produtividade por seca, a exemplo das práticas como a adoção plena do Sistema Plantio Direto (SPD)”, explica o pesquisador Júlio Franchini, da Embrapa Soja.
Segundo ele, a proposta é enquadrar as áreas de produção de soja em quatro níveis de manejo (NMs), segundo indicadores e critérios que refletem os impactos das práticas agrícolas sobre características e processos físicos, químicos e biológicos do solo.
Proposta de níveis de manejo
Em conformidade com a qualidade e o histórico do manejo adotado, a metodologia prevê a adequação de parâmetros dos modelos do Zarc que determinam a disponibilidade de água para a cultura, gerando assim riscos hídricos decrescentes do primeiro ao quarto nível (NM1 ao NM4).
Para o enquadramento nos níveis de manejo, foram selecionados sete indicadores que refletem a qualidade do manejo e a fertilidade do solo, sob o ponto de vista de maior disponibilidade de água e crescimento radicular.
Assim, são indicadores de níveis de manejo:
- a quantidade de anos sem preparo do solo;
- porcentagem de cobertura do solo na semeadura da soja;
- diversificação de culturas consideradas nos últimos três anos;
- disponibilidade de nutrientes às plantas, na camada de 0-20 cm;
- teor de cálcio na camada de 20-40 cm;
- ausência de alumínio tóxico na camada de 20-40 cm;
- qualidade da estrutura do solo
De acordo com o pesquisador Alvadi Balbinot, três dos indicadores refletem diretamente os pilares que fundamentam o Sistema Plantio Direto (cobertura do solo, mínimo revolvimento e diversificação de espécies vegetais).
“Portanto, o SPD se constitui em uma importante estratégia para mitigar o risco climático relacionado à ocorrência de secas”, explica.
O pesquisador afirma, ainda, que outros indicadores estão relacionados com a disponibilidade de nutrientes e à acidez do solo em superfície e subsuperfície.
“Este fator quando não corrigido adequadamente pode limitar o crescimento e o funcionamento das raízes, aumentando assim o risco de perdas expressivas de produtividade por seca”, destaca.
Camada superficial do solo
O indicador de estrutura do solo é acessado por meio do Índice de Qualidade Estrutural do Solo (IQEs), obtido pelo Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES).
O DRES, por sua vez, é um método para qualificar a estrutura da camada superficial do solo, baseado em características detectadas visualmente em amostras dos primeiros 25 cm.
“A metodologia apresenta aplicação prática para diagnosticar se o solo apresenta compactação ou ainda se está apresentando melhorias em função das práticas adotadas, quando realizado de maneira sequencial ao longo do tempo”, diz.
Desafio na adoção do SPD
A manutenção da cobertura do solo, a preservação ou aumento do teor de matéria orgânica e a melhoria das propriedades (físicas, químicas e biológicas) do solo são, portanto, benefícios que se obtém mediante a adoção do Sistema Plantio Direto.
“Além desses benefícios, o crescimento do sistema radicular tem grande importância para o aumento do reservatório de água disponível durante os períodos de estresse hídrico”, destaca Franchini.
“Nesse sentido, práticas de manejo do solo que aumentem a infiltração e a retenção de água no solo e o crescimento das raízes das culturas em profundidade são relevantes para minimizar as perdas por déficit hídrico”, ressalta o pesquisador Henrique Debiasi.
Segundo a Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto, o SPD está presente em cerca de 33 milhões de hectares no Brasil. No entanto, a maior parte dessa área não atende de forma integral às premissas do sistema, restringindo-se à mínima mobilização do solo pela eliminação de operações de preparo.