Has Warren Buffet lost his touch? Essa é a pergunta-título de uma matéria da Economist desta semana. A revista nos informa que, se você tivesse investido na empresa de Buffett 10 anos atrás, sua rentabilidade não teria sido muito diferente da do S&P500, o índice geral da bolsa americana, no mesmo período. Ou seja, não teria sido necessário se arriscar, bastaria ter comprado um ETF (um fundo passivo) do S&P500 para obter a mesma rentabilidade.
E continua. Entre 2010 e 2023, as ações da Berkshire Hathaway (BRK), a empresa de Buffett, subiram a uma média de 13% ao ano, contra 15% ao ano do S&P500. Segundo a revista, em sua última carta aos acionistas Buffett reconhece o problema: “Não temos tido chance de gerar uma performance impressionante”.
Antes de entrar nos motivos, vamos expandir um pouco a análise quantitativa da Economist. O gráfico abaixo mostra a rentabilidade da BRK contra o S&P500 em janelas móveis de 10 anos.
O gráfico começa em 1974, quando o fundo completa 10 anos (1965 –1974), e assim vai até 2024 (final de agosto), que indica a rentabilidade anualizada entre os anos 2015 e 2024. A linha azul é a performance da BRK nos últimos 10 anos (em cada ponto), a linha laranja é a performance do S&P500 também nos últimos 10 anos, e as barras verdes são as diferenças em cada ponto. A maior diferença foi no ano de 1985 (que representa a performance entre os anos de 1976 e 1985), de 36,5 pontos percentuais. Nesse período de 10 anos, a BRK rendeu nada menos que 50,7% ao ano, contra o S&P500 que rendeu “apenas” 14,1% ao ano. Bons tempos!
Agora observe o que acontece a partir de 2012. As linhas azul e laranja se encontram para nunca mais se separarem. Isso acontece inclusive em 2024, ano em que a BRK está rendendo mais de 28% contra 18% do S&P500. Ou seja, desde 2012 a BRK não consegue ultrapassar a rentabilidade do S&P500 de maneira consistente em janelas de 10 anos. Mas lembre-se que o ponto 2012 representa a rentabilidade entre os anos de 2003 e 2012. Portanto, quando a Economist pergunta o que aconteceu com a BRK nos últimos 10 anos, na verdade deveria perguntar o que vem acontecendo desde 2003! Entre 2003 e 2024, a BRK e o S&P500 renderam exatamente a mesma coisa, 11,1% ao ano.
Uma primeira resposta aventada pela revista é o próprio tamanho da companhia. A empresa de Warren Buffett atingiua impressionante marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado no último dia 28/08. Considerando a valorização da ação desde o seu início e fazendo uma conta reversa, podemos chegar na evolução do tamanho da empresa ao longo do tempo. É o que demonstramos no gráfico abaixo:
Note como o valor de mercado da BRK mal sai do chão até o início da década de 90, e vai atingir o valor de US$ 100 bilhões somente em 1998. Marquei o ano de 2003, quando a BRK se torna uma ação “comum”. Nesta data, a BRK vale US$ 121,5 bilhões. A partir daí, o aumento do valor de mercado se dá na carona do mercado americano de ações, representado pelo S&P500. Ou seja, a impressionante rentabilidade dos anos que vão de 1965 até meados dos anos 90 se dá sobre um patrimônio muitas vezes menor do que o que temos hoje. A Economist traduz da seguinte forma: “Entre as unidades operacionais da BRK encontram-se a segunda maior ferrovia de cargas do país, a terceira maior seguradora de automóveis, uma das maiores empresas de energia elétrica e uma pletora de fábricas e marcas de varejo. Juntas, essas empresas empregam 400 mil funcionários e produzem vendas de US$ 360 bilhões. Quando esses números atingem tal tamanho, é difícil fazê-los ainda maiores.”
A matéria entra em outras considerações mais subjetivas que não vêm ao caso aqui. O fato é que o tamanho acaba por ser um fator desafiador para a geração de valor muito acima de benchmarks de mercado. Temos um caso local, o famoso Fundo Verde. A estratégia existe desde 1997, e o mesmo exercício (janela móvel de rentabilidade de 10 anos) irá mostrar basicamente o mesmo fenômeno. É o que podemos observar no gráfico a seguir:
Observe como a rentabilidade do fundo vai se aproximando da rentabilidade do CDI ao longo do tempo. Na última janela, entre 2014 e 2023, o fundo rendeu 10,96% ao ano contra 9,23% ao ano do CDI, uma diferença ainda positiva de 1,73% ao ano, mas muito menor do que foi no passado. O que podemos esperar no futuro?
Este problema representa um desafio para os investidores. Afinal, é preciso “descobrir” o bom gestor antes que outros o descubram, quando o fundo ainda é pequeno. Quando o gestor fica famoso e atrai toneladas de recursos, os graus de liberdade do gestor começam a diminuir pelo seu próprio tamanho em relação ao mercado. Como fazer isso?
Ninguém sabe ao certo. O fato é que são poucos, muito poucos mesmo, aqueles que investiram com Warren Buffett desde os seus primórdios e permaneceram com ele até hoje. A maioria não viu nem de perto as rentabilidades estelares proporcionadas pelo mago de Omaha. Para nós que não tivemos essa sorte e, provavelmente, nunca vamos ter, o remédio é a velha diversificação. No caso, diversificação de gestores. Diversificando, é verdade que diminuímos nossa chance de tirar a sorte grande e escolher o próximo Buffett. Mas, por outro lado, diminuímos o risco de escolher justamente alguém que vai queimar o nosso dinheiro. A diversificação é a regra para aqueles que reconhecem que não conseguem prever o futuro. Porque, como demonstra a performance da BRK, não adianta “descobrir” o bom gestor depois de todo mundo.